LENDA DE EQUADOR: A BOTIJA DA BARAÚNA

 Uma botija é um utensílio ou jarro de cerâmica ou barro que era utilizado para guardar objetos, especialmente joias, dinheiro e outros itens de valor. Antigamente, as pessoas, temendo os cangaceiros que rondavam a região, tinham o costume de esconder seus bens mais preciosos em moringas, potes e outros recipientes. Esses objetos eram cuidadosamente escondidos em paredes, quintais, muros ou perto de plantas, para que pudessem ser facilmente localizados posteriormente. Muitos, no entanto, faleciam sem usufruir dessa riqueza, permanecendo espiritualmente ligados a esses tesouros.


Um senhor da nossa cidade teve um sonho com uma dessas "almas penadas". No sonho, a alma pedia para que ele fosse sozinho até uma baraúna e desenterrasse uma botija que estava enterrada naquele exato local, libertando-a assim do terrível castigo divino. Ainda no sonho, a alma alertou que ele deveria ir sozinho e que enfrentaria forças sobrenaturais, mas que deveria ignorá-las.


O homem destemido seguiu as instruções. Foi ao local indicado e começou a escavar. Apesar das intervenções do além, ele encontrou todas as relíquias que estavam escondidas. Não se sabe ao certo o que foi feito com todo o tesouro encontrado, mas alguns amigos viram moedas de ouro maciço em posse desse cidadão, que rapidamente comprou terras, gado e outros bens.


Como tudo na vida tem um custo, esse senhor, cujo nome vamos omitir, perdeu a esposa, a família e até pessoas próximas faleceram em acidentes inexplicáveis. Se tudo isso foi obra do destino, não saberemos, mas comentam que toda botija vem com uma maldição.


LENDA RURAL DE EQUADOR-RN- O CÃO DA FAVELA E A GUERRA DAS VAZANTES.


Em uma época remota na comunidade rural de Favela, no município de Equador-RN, vivia uma criatura mística, demoníaca e travessa, cuja missão era infernizar a vida dos moradores, criando contendas e ódio que alimentavam sua natureza maléfica. Nos períodos de longa estiagem, a luta dos agricultores pela sobrevivência intensificava-se, e cada pequeno terreno úmido, onde fosse possível plantar, era naturalmente disputado e protegido, como era o caso das vazantes.

No sítio, habitava uma senhora muito devota chamada Rosa, que vivia em intensa oração. Constantemente, ela recebia a visita do cão da favela, que a infernizava, narrando todas as maldades cometidas. Rosa repreendia e até mesmo exorcizava o ser. Em uma noite de seca extrema, o cão revelou que faria os agricultores, seu João e seu José, brigarem por causa de um barramento de açude.

Na manhã seguinte, o cão colocou seu plano em prática. Durante a noite, foi à várzea, pisoteou todas as plantações do senhor José e incutiu em sua mente que seu vizinho João era o responsável. Ao amanhecer, José confrontou o inocente João, sem compreender o que estava acontecendo. O ser corria até Rosa, dizendo que a briga estava prestes a acontecer, mas ela, sempre em oração, não dava atenção.

O roçado de seu José, repleto de melancias, tornou-se alvo do cão novamente. Ele bateu nas melancias, fazendo barulho ouvido a dois quilômetros de distância, insinuando que alguém estava roubando as frutas. Quanto mais irritados ficavam, mais o cão sorria, se divertindo com a contenda. Ele tentava incessantemente provocar uma briga séria entre os dois, buscando as últimas consequências.

A contenda evoluiu, resultando em uma séria discussão entre João e José, deixando-os intrigados para sempre. No entanto, graças às orações de dona Rosa, o caso não teve consequências mais graves. Feliz por ter realizado mais uma maldade, o cão da favela saiu dando várias gargalhadas em pleno sol escaldante no meio da caatinga.