CRÔNICA:O CHIAR DE UMA PANELA...-POR THAÍSES DUTRA
O chiar de uma
panela...
Dentre tantas paisagens e belezas
naturais próprias desse pedaço de chão, deparei-me com as idas e vindas dos
passos largos que, sobem e descem a rua São Sebastião. É nessa vereda que corta
o hospital e a maior escola da cidade que os encontros e desencontros
acontecem. É nela e através dela que a senhorinha despreocupada com o horário
do almoço e que, ao mesmo tempo, com os ouvidos à postos no chiar da panela de
pressão, é informada que às 11 horas – rosa comum a região que se abre sempre
nesse horário- é chegada a hora do rango.
Os senhores permeados por
assobios, sem melodia alguma, dão notícia de todos os passos que ali se
entrelaçam e aguardam ansiosos o passar das bruguelas que ora acenam, ora
encontram em outra paisagem milhares de coisas mais interessantes que aquela
cena de ociosidade.
É indispensável, ao caracterizar
essa alameda, não citar os dois instantes de maior pico- das 6:40 para aqueles
mais adiantados até as 7:15 que é quando o passo adianta-se, exprime tensão e
pouca combinação rítmica, graças ao medo de ser barrado no portão da escola. A
partir das 11 horas, as expressões faciais passam por um processo de
metamorfose. Uns são tomados pela fome, outros pelo cansaço, alguns, ainda,
pela volta da consulta ao médico que, sequer olhou no olho e mais uma vez, de
novo, novamente requisitou apenas antitérmicos. E lá se vai o mesmo ritual
quando a tarde vai apontando.
Mas quer mesmo ver o silenciar
dessa rua? É quando se aprochega o entardecer. Ah, o entardecer! Repleto de
melancolia. Parece até que é justamente nesse horário que a saudade teima em se
mostrar. Ou você nunca notou esse esmorecer do dia quando a boca da noite rouba
o sol e de brinde nos oferece apenas a escuridão?
E quer ver sofrimento mesmo?
Ausência de movimento nessa avenida da pacata Equador? Experimente observá-la
no final de semana... O som algoz ouvido de segunda a sexta limita-se ao bom
dia da mesma senhorinha que, incansavelmente, varre sua calçada e, na
expectativa de um movimento, permanece intacta, ativa e, sobretudo, concentrada
na panela que chia porque tá aí uma coisa que, de segunda a segunda, não tem
folga...
Equador, 19 de
setembro de 2018.
Thaises Dutra- professora de
língua portuguesa, apaixonada pela literatura e cronista em construção!
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