O MITO DE MARTIM BOI E SUA FAMÍLIA

     


    Neste projeto de resgate das memórias, é impossível não recordar Martim Boi e sua família. Mas quem era ele? Por que nunca permanecia em um só lugar? O que carregava na misteriosa "trouxa" que equilibrava na cabeça? O que teria acontecido para que ficasse daquele jeito? E por que temia tanto ser fotografado? Perguntas enigmáticas, cujas respostas, se existem, provavelmente nunca serão completamente conhecidas.

    Lembro-me nitidamente da casa de sua família, localizada próximo à Rua do Cemitério. Sempre senti um misto de receio e curiosidade em relação a Chiquinha, Craúna e Chico Boi, mas, por outro lado, tinha um certo apreço pelo jeito mais amável de Inês.

    Martim Boi vagava pela caatinga, como se pertencesse mais à paisagem árida do sertão do que a qualquer lar fixo. No chão de terra seca, desenhava aviões na areia, cantarolava melodias, tocava um vialejo ou uma gaita e imitava sanfoneiros. Quando chegava à cidade, bastava-lhe um pedaço de pão doce e um copo de água gelada.

    Segundo relatos, sua família, conhecida como "família Boi", apresentava certas condições peculiares, possivelmente em razão do grau de parentesco entre seus pais.

    Martim Boi faleceu solitário, às margens de um açude. Ninguém sabe ao certo se foi vítima da picada de uma cobra ou de um mal súbito. Seu fim, assim como sua vida, permaneceu envolto em mistério, alimentando ainda mais o mito em torno de sua figura.


ACIDENTE GRAVE NA SERRA DOS QUINTOS EM 1950

 Uma fotografia que exibe seis corpos carbonizados sempre despertou minha curiosidade sobre o que realmente aconteceu naquela tragédia. O relato de uma testemunha ocular ajuda a esclarecer os fatos.

No ano de 1950, um caminhão vindo da cidade de Rio Formoso-PE seguia em direção a Mossoró-RN, transportando uma carga de latas de gasolina. A viagem transcorria sem incidentes até a chegada à temida Serra dos Quintos, que, naquela época, ainda não era asfaltada. A estrada, extremamente íngreme e perigosa, fez com que o veículo perdesse os freios e tombasse, resultando em um dos acidentes mais trágicos da região.

O impacto foi devastador. Com o tombamento, a carga inflamável entrou em combustão imediata, provocando um incêndio de grandes proporções. Seis ocupantes do caminhão foram carbonizados no local, enquanto um sétimo passageiro, embora gravemente ferido, conseguiu sobreviver temporariamente. Ele foi socorrido e levado para a cidade de Parelhas, mas, infelizmente, não resistiu aos ferimentos.

Segundo relatos da época, as chamas eram tão intensas que podiam ser vistas de cidades vizinhas. Décadas depois, um pesquisador, utilizando um detector de metais, encontrou restos das latas de gasolina que faziam parte do carregamento, trazendo à tona vestígios dessa triste história.

Contribuições e fotos: Mailson Viana e texto de Edivanaldo Dantas com correção da IA.





MERCADO PÚBLICO DE EQUADOR: O ANTIGO PONTO DE ENCONTRO DA JUVENTUDE.

     O Mercado Público sempre foi um espaço essencial para o comércio local, desempenhando um papel fundamental no desenvolvimento da feira livre. No entanto, além de sua função comercial, ele também foi, durante décadas, o principal ponto de encontro da juventude equadorense.

    Minha mãe sempre recorda com nostalgia os tempos em que, ainda jovem, costumava circular pelo mercado, trocando recadinhos do coração, ouvindo músicas transmitidas pela difusora e interagindo com os demais jovens da cidade. O local fervilhava de vida, especialmente nos finais de semana, quando se tornava palco de encontros, paqueras e amizades.

    Com a chegada da televisão, uma grande TV foi instalada em uma estante alta, atraindo multidões que disputavam um lugar para assistir às poucas transmissões disponíveis na época. Lembro-me bem do incômodo no pescoço ao tentar acompanhar os programas e filmes exibidos. Além disso, o Mercado também era cenário de grandes festas e eventos, tornando-se um verdadeiro centro cultural e de lazer para a população.

    Com o passar do tempo, outros espaços começaram a surgir, como a famosa "Toca do Viana", a Casa de Som Elite e diversos bares, mantendo acesa a tradição do Mercado como ponto de encontro da juventude. Era ali que os jovens se reuniam para namorar, passear e viver os encontros e desencontros típicos da adolescência.

    Embora eu não tenha vivido a construção do Mercado Público, recordo-me que, durante o governo de Zenon, o espaço passou por uma grande reforma. No entanto, sua decadência como ponto de encontro começou a se desenhar com a inauguração da Praça Ageu de Castro, em 1977, durante o governo de Chico Fumeiro. O novo espaço, mais moderno, aconchegante e bem estruturado, passou a atrair cada vez mais pessoas, tornando-se o novo centro de convivência da cidade.

    Antes da atual estrutura de quiosques, o Mercado Público de Equador-RN era um local aberto, sem divisões, onde as pessoas se reuniam não apenas para fazer compras, mas também para socializar e desfrutar das poucas opções de entretenimento disponíveis. Em uma época em que poucos tinham acesso à televisão, o Mercado era um ponto de encontro diário, proporcionando momentos de lazer e interação comunitária que marcaram gerações.

    Com o tempo, os hábitos mudaram, novos espaços foram criados, e o Mercado Público perdeu sua centralidade como ponto de encontro da juventude. No entanto, suas lembranças permanecem vivas na memória daqueles que testemunharam seus tempos áureos, quando o coração da cidade batia ali, entre conversas animadas, músicas e olhares apaixonados.

Texto: Edivanaldo Dantas da Costa

Correção e aprimoramento: Chatgpt






ORIGEM E EMANCIPAÇÃO DO MUNICÍPIO DE EQUADOR-RN(VERSÃO DOCUMENTADA) POR : Edivanaldo Dantas da Costa

 

No ano de 1856, o Rio Grande do Norte enfrentou sua primeira grande epidemia de cólera, uma doença devastadora que ceifou aproximadamente 2.563 vidas. Em meio ao cenário de medo e incerteza, um agricultor e fazendeiro chamado Simão Gomes, profundamente impactado pelas notícias veiculadas pelos meios de comunicação da época, fez uma promessa a São Sebastião, santo tradicionalmente invocado como protetor contra a peste, a fome e a guerra. Em sua oração, comprometeu-se a erguer uma capela em honra ao santo, caso sua família fosse poupada da terrível enfermidade.

Cumprindo sua promessa, Simão Gomes iniciou a construção da capela com o apoio de diversos proprietários de terras da região, que contribuíram com doações para viabilizar a obra. Esse gesto de fé e solidariedade não apenas fortaleceu a devoção a São Sebastião na localidade, mas também impulsionou o crescimento do povoado ao redor da capela. Segundo relatos orais, a localidade teria sido inicialmente chamada de "Povoado São Sebastião", porém essa denominação não se consolidou e não há registros oficiais que confirmem seu uso. Assim, a construção da capela não apenas marcou a paisagem local, mas também desempenhou um papel fundamental no processo de formação e desenvolvimento da comunidade que ali se estabeleceu. A existência de Simão Gomes é apenas comprovada em um documento (em anexo) que mostra a venda de uma parte de terras do Sítio Periquito de um suposto descendente de Simão Gomes a outro da mesma família.

Com o passar do tempo, ao redor da capela edificada por Simão Gomes, formou-se um pequeno povoado, que passou a ser conhecido como povoado ou povoação do Periquito. O nome tem origem em um sítio da região onde havia grande abundância do pássaro popularmente chamado de periquito-maracanã. O Sítio Periquito pertenceu a descendentes de Simão Gomes e depois a família de José Pedro de Maria, que se tornaria um dos principais articuladores locais, primeiro suplente de subdelegado e importante fazendeiro da época. Desde os primeiros registros históricos encontrados recentemente, o povoado já era identificado por essa denominação e pertencia ao município de Jardim do Seridó.

Em 20 de março de 1917, por meio da Lei nº 34, o município de Jardim do Seridó passou por uma reorganização administrativa, sendo dividido em quatro distritos, dentre os quais se criou o Distrito de Periquito. Esse novo distrito abrangia a população residente a oeste e ao sul do Rio Seridó e do Riacho Salgado. Ainda no mesmo ano, a intendência municipal de Jardim do Seridó determinou a alteração do nome do distrito para Equador.

Posteriormente, com a criação do município de Parelhas, por meio da Lei nº 630, de 8 de novembro de 1926, o Distrito de Periquito passou a ser denominado Povoado do Equador, sendo incorporado à nova divisão municipal. Mais tarde, o Decreto-Lei Estadual nº 603, de 31 de outubro de 1938, oficializou a criação do Distrito de Equador, mantendo-o como parte do município de Parelhas.

A origem do nome "Equador" tem diferentes explicações. Segundo a geógrafa Maria Zélia Batista Guedes, a denominação deriva da palavra "equação", fazendo referência à relação das águas do município com o estado da Paraíba, que atravessa seu território. Outra versão, relatada pelo ex-senador potiguar Doutor Ulisses Bezerra (in memoriam), sugere que a escolha do nome se deu devido à semelhança entre a designação do Sítio Quintos e a capital do Equador, país sul-americano.

O processo de criação do município de Equador contou com a atuação decisiva de três importantes figuras. O vereador José Batista de Oliveira foi responsável por apresentar um requerimento na Câmara Municipal de Parelhas, enquanto José Marcelino de Oliveira desempenhou um papel fundamental tanto no âmbito local quanto estadual. No contexto legislativo estadual, destacou-se o deputado Dr. Ulisses Bezerra Potiguar, autor do projeto que viabilizou a emancipação do município.

Finalmente, em 11 de maio de 1962, a Lei nº 2.799, sancionada pelo governador Aluízio Alves, oficializou a criação do município de Equador, desmembrando-o de Parelhas e estabelecendo sua sede na então vila de mesmo nome. Posteriormente, a Lei Ordinária nº 2.827, de 1º de janeiro de 1963, ratificou a legislação anterior, reforçando a emancipação municipal.

A independência política de Equador foi oficialmente concretizada em 17 de março de 1963, marcando o início de sua trajetória como unidade autônoma no estado do Rio Grande do Norte. Desde então, o município vem consolidando sua identidade política, econômica e cultural, tornando-se uma referência na região do Seridó potiguar.

 

Edivanaldo Dantas da Costa

Fontes:

https://tribunadonorte.com.br/tn-familia/de-uma-epidemia-de-colera-nasce-o-primeiro-hospital-em-natal/ Acesso 02/fev/2025

GUEDES, Maria Zélia Batista. “Aspectos Gerais do Município de Equador -RN.” Equador: 1981. 

FATOS DO RN : Lei nº 630, de 08/11/1926: Criação do município de Parelhas. Acesso 02/fev/2025

CASCUDO, Luís da Câmara. Nomes da terra: história, geografia e toponímia do Rio Grande do Norte. Natal: Fundação José Augusto, 1968. p. 179.

https://geoftp.ibge.gov.br/cartas_e_mapas/mapas_para_fins_de_levantamentos_estatisticos/censo_demografico_2010/mapas_municipais_estatisticos/rn/equador_v2.pdf. Acesso em 02/fev/2025

IBGE – INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA. Biblioteca IBGE. Rio de Janeiro: IBGE, 2025. Disponível em: https://biblioteca.ibge.gov.br/biblioteca-catalogo.html?id=34606&view=detalhes.Acesso em: 02 fev. 2025.

ANEXOS