LENDA URBANA DE EQUADOR: O JUAZEIRO DAS ALMAS

    Todo nordestino que se preze conhece o juazeiro, uma árvore frondosa que resiste bravamente à seca e mantém sua folhagem verde ao longo do ano. No sertão, essa planta simboliza a força, a coragem e a resiliência do nosso povo.

    No município de Equador-RN, um juazeiro em especial carregava um significado profundo para a comunidade. Ele não era apenas uma árvore, mas um marco de histórias e despedidas, pois servia de abrigo para os corpos das pessoas carentes da zona rural que ali eram deixados enquanto aguardavam a chegada de um caixão comunitário.

    A logística era simples, mas carregada de uma triste realidade social. No cemitério local, havia uma pequena capela onde a prefeitura mantinha dois caixões comunitários, já que a cidade não possuía casa funerária e a população da zona rural era numerosa. Quando alguém falecia, principalmente nos sítios mais distantes, o corpo era transportado em redes até o juazeiro, onde permanecia à sombra da árvore até que uma urna funerária estivesse disponível para o sepultamento.

    Além dessa função singular, a área ao redor do juazeiro também se tornou um local de descanso final para muitos "anjinhos" — como eram chamados os bebês e crianças que faleciam precocemente. Naquele tempo, a mortalidade infantil era alta, e, de acordo com as normas da Igreja, as crianças não batizadas, conhecidas como "pagãos", não podiam ser enterradas no cemitério cristão. Assim, o sítio próximo ao juazeiro tornou-se um campo santo improvisado, acolhendo pequenos túmulos anônimos e carregando a dor de inúmeras famílias.

Com o passar dos anos, a árvore ganhou a fama de "Juazeiro das Almas", não apenas por ter servido como abrigo para os corpos, mas também pelos relatos de antigos moradores. Muitos diziam que, ao cair da noite, era possível ver sombras vagando pelo local, como se os espíritos daqueles que ali aguardaram seu caixão ainda permanecessem presos entre este mundo e o outro.

    Diante da importância histórica e simbólica desse espaço, sugiro que os futuros governantes considerem a construção de uma praça memorial, resgatando essa memória coletiva e honrando aqueles que ali repousaram. E, para que o legado do velho juazeiro não se perca, que seja plantada uma nova árvore semelhante exatamente no local onde ele um dia esteve, perpetuando sua história e seu significado para as gerações futuras.

 

 



 

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