Simplesmente Parabéns! Por Thaíses Dutra.

Simplesmente, parabéns!

Sempre me vi na saga de menino excluído, na maioria das vezes, à margem de uma sociedade que seleciona sem ao menos oferecer meios para mudança de vida. 
Desde muito cedo, "bruguelo desfalido", magro de fazer dó, o nariz teimava em escorrer, a fome apertava desde os primeiros minutos de aula, o cheiro de arroz refogado e a esperança que o sinal fosse tocar logo logo anunciando a chegada do intervalo.
Essa, sem dúvida, era a hora mais feliz do meu dia, ali eu teria comida garantida, até direito a repite, algumas vezes. Mas o que fora dito pela tia- que incansavelmente me acolhia todas as manhãs, feito gente, me abraçava e me beijava, mesmo sabendo que eu resistia- não ficava em minha mente, talvez pela imperatividade, pelo roncar da barriga, ou até mesmo pela limitação de  aprendizagem. Logo ali, revoltado, eu pensava o que aquela tia ganharia em troca, qual o motivo de bom dias repentinos para um moleque como eu que sequer recebe a presença inesperada da mãe pela janela lateral que dá acesso à rua.
Só bastava um pensamento como esse para eu me pegar, miseravelmente, lembrando do quanto me sintia excluído. Contudo, nesse mesmo instante, tinha a oportunidade de repensar no que e como eu poderia mudar minha condição dali em diante. Estudar...
 Ser doutor...
Orgulhar meus pais...
Tudo isso me parecia tão distante. 
Com o passar dos tempos, fui obrigado a ganhar a vida na cidade grande, afinal, lá teriam melhores oportunidades. 
Hoje, depois de ter encarado essa realidade, e de maneira ainda muito limitada no que diz respeito a leitura e escrita - em frente ao prédio que trabalho como servente de pedreiro mas que provavelmente nunca terei a oportunidade de entrar depois de pronto- pego-me passando no celular postagens no Facebook a respeito dos 36 anos daquela escola que tanto se fez presente em minha vida. A mesma tia ainda está lá, aguardando moleques como eu que chegam sem esperança alguma mas que, ao menos, receberão um beijo de bom dia.
Queria eu, meu Deus, transferir tudo isso que toma de conta da minha mente para uma folha de embrulho dizendo o quanto amei esta escola, e ainda amo. E como, mesmo em meio a tantos desafios e perspectivas, conseguia me sentir incluído. Afinal, lá eu tinha identidade, registro, documento. Lá, pelo menos uma vez por dia, enquanto a tia fazia a chamada, eu era chamado pelo meu nome. 
Obrigada, querida escola. Foste, és e continuará sendo parte formativa da educação do nosso povo e, da maneira mais simples possível, escrevo nas linhas que se seguem: Parabéns!!!

Comentários

POSTAGENS MAIS VISITADAS

IMPORTÂNCIA DA ATUAÇÃO DE DEDÉ BATISTA NO MUNICÍPIO DE EQUADOR/RN

HISTÓRIA DO MUNICÍPIO DE EQUADOR-Escrito pela professora: Maria Zélia Batista Guedes, escrito em 1978/1979 e publicado em 1981.

CRÔNICA:O CHIAR DE UMA PANELA...-POR THAÍSES DUTRA